História & Cultura
Segue-se a história de como o “Monumento às Mulheres Imigrantes” foi idealizado e produzido em parceria entre poder público e sociedade civil para coroar com um lindo marco as comemorações dos 150 anos de São Bento do Sul.
A ideia inicial da obra foi trazida pela arquiteta Shyarra Becker e o projeto foi materializado pela Andrea Maristela Bauer Tamanine que naquele momento estava como Secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo, baseou-se na pesquisa sobre as primeiras imigrantes, seu estilo de vida nos primórdios da colonização da cidade, seu papel na sociedade, seus trajes e costumes. Esta interpretação foi tomando forma pelas mãos do escultor José Cristóvão Batista, catarinense que conta com um acervo de mais de duas mil obras em vários países. Especialista em monumentos em concreto armado, suas obras já somam mais de 50 na região Sul. Suas esculturas podem ser vistas em praças públicas de cidades dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Enfim, um pouco de história. Como já sabemos, em 1873, a Companhia Colonizadora com sede em Hamburgo, na Alemanha, comprou as terras ao longo do riacho São Bento, onde se instalaram as 70 famílias de imigrantes oriundos da Bavária, Prússia, Polônia, Saxônia e antiga Tchecoslováquia, além de algumas famílias brasileiras. Num sistema de cooperação mútua, derrubaram matas, iniciaram suas casas e prepararam as primeiras roças, outros buscaram emprego na construção da Estrada Dona Francisca e assim fizeram nascer a Colônia São Bento.
Os 70 imigrantes pioneiros têm seus nomes lembrados no Monumento ao Imigrante, localizado na Praça Jardim dos Imigrantes, no Centro da cidade, porém nenhuma referência, havia sido feita às suas mulheres ou àquelas que vieram nas levas seguintes de colonização para as terras do planalto norte.
Para saber mais sobre a história das mulheres, iniciou-se uma pesquisa para que uma lista das imigrantes pioneiras pudesse ser fidedignamente compilada. A pesquisa envolveu material histórico, a exemplo dos livros já escritos sobre a história de São Bento do Sul, como de Josep Zipperer, Carlos Ficker e Alexandre Pfeiffer, à extensa pesquisa realizada pelas historiadoras Maria Teresa Böbel e Raquel Thiago publicada em 2 volumes intitulados “Joinville os pioneiros”, assim como consultas a historiadores como o Prof. Antônio Dias Mafra. Nesta lide, se identificou que dos 70 pioneiros, 62 eram casados quando imigraram e que suas esposas, em sua maior parte, apenas chegaram a São Bento do Sul no ano seguinte, 1874.
A listagem das 62 pioneiras ficou assim constituída:
1. Albertine Selke |
2. Amalie Marschalk |
3. Anna Brokopf |
4. Anna Kaulfersch |
5. Anna Lella |
6. Anna Rohrbacher |
7. Antonie Pawlowski |
8. Auguste Gutmann |
9. Auguste Natzke |
10. Barbara Leck |
11. Caroline Beckert |
12. Caroline Engler |
13. Caroline Gutz |
14. Caroline Ledebur |
15. Caroline Lefke |
16. Caroline Neumann |
17. Catharina Ficka |
18. Catharina Hintz |
19. Catharina Peruszewski |
20. Cecilie Zipperer |
21. Charlotte Roeder |
22. Elisabeth Hümmelgen |
23. Elisabeth Zipperer |
24. Ernestine Schröder |
25. Eva Witt |
26. Francisca Czapiewsky |
27. Francisca Pilat |
28. Friederike Hackbarth |
29. Friedrike Grimm |
30. Henriette Marre |
31. Henriette Mielke |
32. Henriette Neubauer |
33. Henriette Schneider |
34. Henriette Ziemann |
35. Johanna Becker |
36. Johanne Schröder |
37. Johanne Sill |
38. Josephine Brezinski |
39. Justine Zaszewski |
40. Kascha Hereck |
41. Magdalena Jelinski |
42. Maria Konkel |
43. Maria Turkmankiewicz |
44. Maria Waldmann |
45. Mariane Farolich |
46. Mariane Hart |
47. Marianne Dolla |
48. Marie Bontzki |
49. Marie Diedzier |
50. Marie Harz |
51. Marie Weyrzyn |
52. Pauline Meyer |
53. Pauline Schielein |
54. Rosalie Küchler |
55. Sophie Fuhrmann |
56. Sophie Glade |
57. Therese Duffeck |
58. Therese Steiber |
59. Theresia König |
60. Wanda Marzatek |
61. Wilhelmine Richter |
62. Wilhelmine Rüske |
A frase inspiradora, trazida na apresentação inicial da arquiteta Shyarra, trazia as palavras de Josep Zipperer, em sua obra publicada “São Bento no Passado”, de 1954, p.28 e 29:
É um compilado deste texto que vocês encontrarão na placa do monumento, assim como sua versão em braile e um QR CODE que levará ao site do Turismo de São Bento do Sul e à parte do texto que ora lhes é apresentado na forma falada.
Este texto poderá ser continuamente melhorado e mais e mais dados das histórias que compõem o cenário das mulheres imigrantes poderão ser acrescentadas, pois muitas mais mulheres vieram a São Bento do Sul nos anos seguintes a 1874, de diferentes regiões da Europa, e esta homenagem se refere também a elas. Que todas as etnias das mulheres que formaram São Bento do Sul sintam-se honradas e homenageadas.
Explicamos finalmente a referência e o conceito aplicado neste monumento de entorno de 3 metros de altura, na cor ouro velho que apresenta 3 figuras femininas cada qual em um vértice de um obelisco.
Os obeliscos são estruturas arquitetônicas antigas, que têm um significado simbólico profundo em diferentes culturas. Desde o antigo Egito até os dias atuais, os obeliscos têm sido usados como monumentos e marcos importantes, são conhecidos por sua beleza e imponência, e muitas vezes são considerados símbolos de prestígio, grandiosidade e conquista, além de serem utilizados como marcos para demarcar territórios e para orientação geográfica.
Estas três figuras distruibuidas nestes vértices, três figuras femininas, em seus trajes de época, representam uma única mulher, pois a capacidade da maternidade e da continuidade das gerações está com elas (conforme a figura da mulher com a criança no colo voltada para a igreja como simbolo da crença na constituição das familias como pilares da sociedade), a feminilidade, o romantismo a vaidade feminina (estão representadas na figura da mulher em vestido de baile e com uma rosa nas mãos, voltada a sociedade Saegerhalle local de festividades e comemorações) e a coragem feminina e a força de trabalho das mulheres está representada pela figura feminina direcionada para a Estrada Dona Francisca por onde vieram estas colonizadoras, figura esta que carrega uma serra, instrumento fidedigno em formato e escala às serras utilizadas na época e pertencente ao acervo do Museu Municipal Dr. Felipe Maria Wolff.
Assim neste trabalho buscamos honrar nossas antepassadas, sua luta em uma terra distante de seu país natal, onde mantiveram a cultura e as tradições amenizando a saudade de seus familiares e amigos deixados além-mar e que, desta forma, constituíram a São Bento do Sul que tanto nos orgulha nestes 150 anos de história.
Por parte do poder público, o "Monumento às mulheres imigrantes” representa mais um ativo cultural e turístico desta comunidade, assim como as casas típicas, a Sociedade Saegerhalle, a Casa Eichendorf e Estrada Imperial, entre outros valores da rota turística da imigração que precisam ser valorizados e receber investimentos para embelezamento, sinalização turística e infraestrutura.